0. NOTA PRÉVIA
A equipa da PAIXÃO AZUL, confrontada com um desconhecimento quase total dos caçadores de pombos torcazes portugueses e espanhóis relativamente às características e origem das raças dos pombos de vara companheiros das nossas aventuras cinegéticas na nobre arte de negaçar com vara, tem vindo há já algum tempo a fazer alguma pesquisa em textos, livros e sites internacionais que se debruçam sobre a matéria, para tentar fazer alguma luz sobre o assunto. É o resultado dessa pesquisa que aqui compartilhamos com vocês. De referir que o que aqui se relata poderá em algumas situações não ter o rigor suficiente que o assunto exigiria, mas tal deve-se, por um lado à dificuldade de conseguir informação rigorosa e precisa e, por outro, contrariamente ao que acontece a muitas outras espécies de animais de companhia, à inexistência de padrões de raça relativos a pombos para caça, perfeitamente definidos e aceites por todos, bem como organizações ou clubes de criadores que garantam o rigor desses padrões, como acontece em outras raças de pombos de cor ou forma. A única excepção é o pombo francês Azul de Gascogne, cujas características se encontram bem definidas no livro “Liste des races françaises de pigeons”.
1. INTRODUÇÃO
A caça aos pombos torcazes com vara constitui uma actividade apaixonante, praticada na Europa pelo menos desde o século dezoito, tendo cada vez mais adeptos no nosso país. Esta actividade, apesar de tradicional, foi recentemente objecto de uma enorme evolução em resultado da adopção de novas técnicas vindas de fora, sobretudo de Itália, que a vieram revolucionar.
Nos últimos anos, paralelamente com as varas verticais, capazes de projectar as negaças em altura, muito mais apelativas do que as tradicionais, vieram também pombos “italianos de asa lisa” e franceses “azul de gascogne”. Estas raças são particularmente dóceis e muito semelhantes aos torcazes, sobretudo se tiverem a coloração adequada, com riscas brancas sobre as asas, o que permite uma grande visibilidade mesmo a grandes distâncias. Estas são mesmo as únicas raças apuradas com o propósito de servirem de atractivo aos seus parentes silvestres, pelo que, para além da sua cor cinzento-azulado, não possuem as indesejáveis barras negras nas costas. O facto de serem muito dóceis, sobretudo os italianos, facilita o seu treino e o trabalhar em acto de caça.
Apesar de se tratar de pombos cuja importância diminuiu um pouco com as novas técnicas de negaçar, será ainda feita uma referência aos pombos nacionais, pois continuam a ser dos mais utilizados entre nós, por constituírem uma enorme valia, sobretudo em condições onde o “guizo” possa ter relevância.
2. HISTÓRICO
Em 1920, surgem as primeiras notícias de um pombo utilizado solto, sem carapuça, na caça aos torcazes. Este pombo que se chamou originalmente Amélia, por ser oriundo desta localidade no centro de Itália, tomou mais tarde o nome de TERNANO, por Amélia se localizar na zona de Terni. Este terá talvez tido a sua origem no cruzamento de pombos domésticos (columba livia) com pombos correio.
Apesar de ser bastante mais antigo, sendo já então utilizado como chamariz do pombo torcaz, em 1920 é também estabelecido o primeiro standard, passando a ser considerado pombo de exposição, o AZUL GASCOGNE, pombo originário de frança, tendo como antepassado o Biset para os franceses, ou pombo doméstico (columba livia), apurado para se tornar o mais parecido possível com o pombo torcaz. Trata-se de um pombo muito resistente, do qual, contrariamente ao por vezes referido, existe apenas uma variedade.
No final dos anos setenta, o conhecido caçador e criador italiano Pietro Cepatelli, cruzou o Vermelho Genovês, derivado do Torraiolo, com o francês Azul de Gascogne, para obter o ROSITA, muito semelhante ao francês mas sem barras ou com elas esfumadas e com boa predisposição para o trabalho de caça.
Em 1982, Maurizio Lorenzini, de Casale Marítimo perto de Livorno, no centro / norte de Itália, começa por cruzar o Allodola de Coburg com o Ternano. Em 1986 obteve seu primeiro pombo macho, compacto, sem barras negras. Em 1989 obteve a primeira fêmea. Em 1996 conseguiu fixar em definitivo as características do denominado CASALESE, com tamanho intermédio entre o Allodola de Coburgo e o Ternano. Este pombo tem uma cor uniforme cinza com corpo esbelto e sem barras. Em seguida, introduziu sangue de pombo preto/cinza, para conseguir um pombo cinza mais escuro.
Mais tarde, Ceppatelli, cruzou algumas de suas linhagens francesas com o Ternano, tendo obtido o TENEBROSO, pombo escuro, sem barras, semelhante ao Ternano.
Em Portugal, sem ser possível localizar no tempo, também a partir do nosso pombo doméstico (columba livia) foi apurada uma raça morfologicamente muito semelhante, mais escura, sem a indesejável mancha branca na cauda, mas com a particularidade de possuir rémiges muito longas, que lhe confere o seu inconfundível guizo, tão apreciado por muitos caçadores portugueses.
3. RAÇAS ORIGINAIS
3.1 POMBO DOMÉSTICO
O pombo doméstico (columba livia) é um pombo pequeno, com barras negras nas costas que teve origem no pombo da rocha, o pombo mais antigo que se conhece, tendo sido domesticado há mais de 5 000 anos.
Pombo doméstico
3.2 ALLODOLA DE COBURGO
Trata-se de um “pombo de forma”, isto é uma raça apurada essencialmente através de critérios orientados para a forma do pombo. Oriundo da Alemanha, foi descrito pela primeira vez em 1869. Tem diversos padrões no que se refere à coloração. A que mais nos importa é a que se ilustra na foto abaixo, por não ter barras negras, o que o tornou extremamente útil em cruzamentos destinados a eliminar as referidas barras. Foi determinante na obtenção do Casalese, ou seja, no Italiano de Asa Lisa.
Allodola de Coburgo prata, sem barras
4. FRANCESES
4.1 AZUL DE GASCOGNE
Pombo com origem em França, tendo como antepassado o pombo doméstico (Bizet para os franceses). Trata-se de uma raça que foi apurada apenas com o objectivo de ser semelhante ao torcaz, para poder funcionar como chamariz. É um pombo muito resistente e do qual existe apenas uma variedade. Tem o olho laranja vivo, o chamado olho de galo. De referir que, de acordo com o padrão da raça, as barras deverão ser o mais ténues possível, embora não devam desaparecer totalmente.
Azul Gascogne
5. ITALIANOS
5.1 TERNANO
Apesar de ser uma raça de pombos muito antiga, descendendo do pombo doméstico, o Ternano (ou Amélia) mantém toda a relevância pois não só está na origem das raças de pombos de vara mais utilizadas, como, por ser dócil, muito inteligente e fácil de treinar, é reconhecidamente o melhor para utilizar solto. Esta técnica (volantini) é a mais utilizada em Itália, com enorme sucesso.
Ternano
Hoje em dia, já se conseguem Ternanos com as asas completamente lisas, isto é, sem barras negras. Estes últimos, embora fujam de forma muito clara daquilo que é o padrão da raça, são utilizados com êxito nas diversas modalidades de caça com vara.
Ternano sem barras
Recentemente, os pombos desta raça foram melhorados com a introdução de penas brancas nas asas, numa posição que, sobretudo em voo, permitem aumentar a sua semelhança com o pombo torcaz.
Ternano para trabalhar solto ou em ponteira vertical
5.2 ROSITA
Pouco divulgado entre nós, trata-se de um pombo sem barras ou com elas esfumadas, semelhante ao francês Azul de Gascogne, de cor rosada, como o próprio nome indica. Derivou de cruzamentos realizados no final dos anos setenta entre a referida raça francesa e o italiano Vermelho Genovês.
Rosita
5.3 TENEBROSO
Sempre com o objectivo de conseguir pombos para trabalho de caça o mais semelhantes possível ao torcaz, os criadores italianos juntaram o seu Ternano com o francês Azul de Gascogne tendo conseguido o Tenebroso. Trata-se de um pombo escuro e sem barras semelhante ao Ternano.
Tenebroso
5.4 CASALESE
O Casalese ou, de forma aportuguesada, o Casalês, foi fixado em definitivo em 1996. Como já foi referido, resultou de uma selecção obtida através do cruzamento do alemão Allodola de Coburgo e do italiano Ternano. Um pouco mais claro do que o Ternano, tem uma cor uniforme cinza, sem barras
Casalese
De referir que o gene responsável pela ausência de barras negras nas asas, obtido a partir do Allodola de Coburgo, é, nesta raça, um gene recessivo, isto é, quando cruzamos um Italiano de Asa Lisa com um pombo de qualquer outra raça possuidora de barras negras, mais ou menos atenuadas, como é o caso do Azul de Gascogne, o resultado são pombos com acentuadas barras negras.
A ausência de organizações que fixem o padrão das raças de pombos para caça em Itália fez com que os criadores, na procura de pombos mais semelhantes aos torcazes, cruzassem o Casalese com o Tenebroso, o que resultou numa grande semelhança entre as duas raças. O Casalese tem uma morfologia muito semelhante ao Tenebroso, com a diferença que é um pouco mais claro e com a cauda um pouco mais longa. O Tenebroso, por sua vez, possui uma cabeça mais semelhante ao Ternano.
A raça que em Portugal e Espanha apelidamos correntemente de Italiano de Asa Lisa corresponde de forma indistinta a qualquer uma destas duas raças (Casalese e Tenebroso). O cruzamento entre elas resulta sempre em pombos sem barras negras.
6. NACIONAL
Tal como os seus equivalentes Ternano, em Itália, Bizet, em França, e Pica, em Espanha, a raça nacional teve origem no pombo doméstico, sendo muito semelhante a este. O seu apuramento foi realizado sobretudo no Alentejo, zona onde a caça aos pombos torcazes com vara se encontra mais enraizada, tendo sempre em vista uma aproximação morfológica ao torcaz.
Estes pombos têm hoje uma cor cinzenta azulada, uniforme, possuindo ainda rémiges muito longas, com o objectivo de melhorar o seu guizo. É ainda possível aumentar o comprimento destas penas, se a ave for desguiada no quarto crescente do mês de Junho, de modo a que a sua plumagem fique completa antes do início da temporada de caça. São pombos muito inteligentes e aptos a qualquer modalidade de caça com vara. Pela negativa, possuem as indesejadas barras negras nas asas.
Nacional